Começando a explorar os caminhos em UX

Lu Terceiro
11 min readJul 25, 2018

Vira e mexe tenho oportunidade de conversar com pessoas que estão começando ou querendo começar na área de UX e querem algumas dicas e sugestões.

Colaborando com o Interaction Latin America – 2018 | Rio de Janeiro, que aliás não é apenas maravilhoso ponto de partida como evento fundamental para quem está na área, resolvemos juntar essas conversas em um texto só e também contar com os pontos de vista de diversos profissionais da área.

Publiquei a pergunta “se você tiver que dar um conselho ou dica para quem está começando (ou quer começar) na área, o que diria?” no Facebook e recebi muito mais respostas maravilhosas do que esse texto comporta, então recomendo muito fuçar lá também :)

Eu falaria assim: “Você está começando em uma das carreiras mais importantes do mundo e que define como pessoas se orientam na cidade, entendem a informação no painel dos seus carros enquanto viajam, vão ler ou ouvir uma mensagem importante em seu celular enquanto caminham na rua, ou fazem a reserva da sua viagem dos sonhos, etc. Tudo que você faz é muito mais do que interface, é sobre a vida das pessoas e seus objetivos e emoções. Bem-vindo! Seja obcecada(o) pelos detalhes e funcionalidades, mas sempre pense nas pessoas lá fora.”
Fabrício Dore - VP Design na McKinsey & Company

A lista abaixo é grande e pode parecer muita, muita coisa. Antes de mais nada, é importante não se sentir sobrecarregado com tudo: escolha o que for mais importante para você nesse momento e vai sem medo!

Formação

Fazer cursos é bom mas não é o único caminho. A área de UX tem várias ramificações e constantemente buscamos balancear o conhecimento mais profundo em alguns pontos com uma visão mais holística.

O famoso guarda-chuva de UX: a realidade pode não ser bem assim, mas dá uma boa ideia da diversidade que podemos encontrar

Há algum tempo atrás, era comum ouvir que o perfil desejado era o perfil em T, onde a pessoa é especialista em alguma área mas tinha um conhecimento geral de outras. Acredito, na verdade, que o perfil “pente quebrado” faça mais sentido para o caráter multidisciplinar dos profissionais que trabalham na área, uma vez que nossa formação reúne diversas habilidades e conhecimentos, e nos mais diferentes níveis.

Perfil em forma de T…
… e o perfil “pente quebrado” (fonte: Brittany Hunter, Atomic Object)

Fica difícil, nesse cenário, um curso apenas cobrir as mais diversas áreas, e quem mais acaba se destacando é porque corre atrás de formação e informação nas mais diversas fontes.

Dito isso, não quero dizer que eu não vejo valor em cursos, muito pelo contrário! Acho que sim, eles podem ajudar de diversas formas, com conteúdo, exercícios e networking. Só é importante manter em mente que provavelmente um curso apenas não será suficiente.

Pois bem, e que cursos são bacanas? Em alguns locais, como São Paulo, temos uma oferta ótima de cursos de média duração, como os da Mergo, Tera, Mastertech e o curso de UX da PUC. Há cursos mais curtos (o Coletividad oferece muita coisa) e há especializações como os da Positivo, IED e EBAC. A ESPM também oferece pós online.

Mas com as graças da Internet, há também bons cursos online como os de Joe Natoli no Udemy e o da UCSanDiego no Coursera. Em português e online há o UX Academy e o Bootcamp da Aela. Leia, ouça podcasts, acesse o Medium. Tem muita informação boa disponível, mas vale sempre lembrar que nada como colocar a mão na massa. Teoria e prática tem que andar de mãos dadas.

Invista em inglês, na medida das suas possibilidades. Pode ser Duolingo, English Life, aula particular, podcast, série no Netflix. Parece básico recomendar mas é algo que de fato pode ajudar bastante.

Toda a parte de estudos, empatia e troca é fundamental. Mas precisamos também estar preparados para abrirmos mão de algumas coisas — (claro, dentro do contexto), aprender a priorizar as batalhas, quando nem todos os envolvidos estão convencidos. É um trabalho de formiguinha, que exige tempo, e humildade, para aprender a tirar o melhor de pequenas frustrações. A gente vai aprendendo muito sobre o usuário, e muito mais sobre nós mesmos.
Liria Maria Ricci — UX Designer

1 — Pode soar óbvio, mas: treine o inglês. pra ler mais, pra ver eventos, pra trabalhos.
2 — Não acredite em tudo que lê. Leia questionando, teste, avalie. Isto não é sobre verdades, é sobre experimentar, ter antenas ligadas e coração aberto.
3 — Você pode começar já. Tem muito material bacana por aí, livros, pessoas. é só ir atrás :)
Emerson Niide- Product & UX Expert

E como coloco a mão na massa, se ainda não comecei a trabalhar?

Não ter um emprego ou estágio não significa que não se possa trabalhar :) Mesmo sem começar na área, há algumas formas de começar a praticar e que vão gerar material para rechear seu portfolio.

Para quem está começando, eu particularmente recomendo:

  1. Aproveite os trabalhos de faculdade, pós-graduação ou realizados em cursos livres. Em entrevistas já avaliei trabalhos de faculdade muito bons, por isso, vale a pena caprichar. Esses trabalhos podem ser úteis não apenas para nota :)
  2. Trabalhos fictícios ou mesmo projetos pessoais, mesmo que eles não tenham se concretizado. Além de ser uma oportunidade de exercitar, demonstra que você identificou um problema e gostaria de sugerir soluções.
  3. Ainda, para quem quiser se inspirar, o Artiom Dashinsky escreveu o livro Solving Problem Design Exercises e toda semana ele envia um exercício. Você pode escolher alguns e montar um case. Dá uma olhada nesses 3 cases, que foram montados para exercícios semelhantes: Joel Califa, Nenad Milosevic, Volkan Gunal e João Carlos Assumpção.

E não esqueça de registrar as etapas dos projetos para você colocar num portfolio. Fotos de dinâmicas, testes, prints de telas, estudos, um pequeno descritivo do que foi o projeto, seu papel, qual era o objetivo, qual foi o resultado e seus aprendizados. Com o tempo, isso vai te facilitar horrores para montar portfolio.

Portfolio, currículo, Linkedin

Cuide com amor e carinho do seu portfolio, Linkedin e currículo. É chato de fazer mas facilita muito quando você vai construindo aos poucos, conforme você vai realizando seus trabalhos.

Nem todo material você conseguirá publicar mas mantenha organizado em um documento particular que você possa mostrar numa entrevista de emprego (sempre tomando cuidado para não expôr dados confidenciais). Organize seus projetos, conte sua história, reuna fotos, documentos que você criou e são interessantes. Conte como foi sua colaboração, seu processo e seu aprendizado.

Estamos, finalmente, chegando a um consenso sobre como deveria ser um portfólio de UX. É importante que ele tenha algo tangível (um protótipo ou mesmo o layout final), mas é imprescindível que ele demonstre todo o processo e as técnicas/metodologias utilizadas para se chegar à proposta que foi desenhada ou desenvolvida. Como foi a jornada do candidato para chegar àquela solução? Quais foram as questões que ele tentou responder? Quem ele estava se propondo a ajudar?
Diogo Cosentino — UX Lead

Pontos importantes são curiosidade e vontade de aprender. Isso pode ser demonstrado por meio de cursos, leituras e até mesmo interesses que não estão ligados diretamente ao trabalho. Outra coisa crucial é o processo: explicar os motivos de suas escolhas e como se chegou a um resultado é essencial para demonstrar seu raciocínio por trás daquilo. Então pratique sempre a defesa de seu trabalho e, nesse processo, esteja aberto a críticas.
Ana Coli — Partner na Saiba+

Busque mentores e pessoas que possam te ajudar no caminho

Busque profissionais que podem te mentorar nesse caminho. Eu acho que em qualquer fase da carreira é bem legal quando você pode contar com pessoas de confiança com quem você pode compartilhar dúvidas e indecisões e que podem te dar feedbacks honestos (mas educados :D) . Quando comecei, por exemplo, tinha um designer sênior que até hoje é meu amigo, que me deu muitas dicas em cima do meu trabalho. Foi muito importante no meu processo.

Converse com outros profissionais para entender como eles estão trabalhando. Houve dificuldades em começar? Tem algum modelo ou processo de trabalho que eles adotam e que você possa ir testando e adaptando de acordo com o que funciona melhor (ou não funciona :D)?

Converse (e ouça) muito com o time (não fique apenas com a sua visão), com o usuário (conheça a pessoa e seu contexto) e também com a comunidade (ser ativo pode ajudar a acelerar o amadurecimento como profissional).
Adriane Tavares Quintas — Design Specialist

Muuuuuita cara de pau! Pra quem vai se meter a entrevistar usuários ou mesmo pra se engajar na comunidade é indispensável.
Rafaela Calheiros- Designer de Serviços

Para ampliar seu network, participe de comunidades online como o Slack da UX SP ou a UXperts no Facebook, que costumam ter uma boa troca de mensagens.

Procure ir em eventos da área, como os promovidos pela IxDA e UxPA. Dependendo da cidade onde você mora, tem muito evento, inclusive gratuito. Além dos próprios conteúdos que os eventos oferecem, você pode conhecer pessoas super bacanas para entender como é a rotina de trabalho deles.

Se houver possibilidade, invista em eventos como o ILA ou a UX Conf BR. O investimento pode parecer alto, mas é uma oportunidade de ouvir designers de vários lugares, aprender bastante e conhecer muita gente boa.

Antes de entrevistar, a primeira coisa que eu olho quando avaliando um designer para a minha equipe são as experiências anteriores. …. Depois é que eu vejo a questão de formação e educação formal. No caso de designers novos que estão querendo entrar para a área, a primeira coisa que eu tento ver é que tipo de coisas que a pessoa está fazendo para buscar conhecimento e experiência na área. Que cursos está fazendo? Que eventos tem participado? Que materiais está lendo? Que referências está seguindo? Possui algum mentor? Essas respostas podem me dar indícios de o quanto a pessoa está interessada e agindo em direção do que está perseguindo.
Pedro Belleza — Design Manager

Não tenha medo de errar

Errar vai fazer parte do caminho, e grande parte da nossa ansiedade é que a gente tem medo de errar, mas faz parte! Por isso ter feedback é legal. Se tiver algo que pode ser melhorado, outras pessoas podem te ajudar a enxergar isso. No mínimo você vai ter uma visão diferente. Esteja aberto à opiniões, mesmo as contrárias.

Procure os porquês e esteja aberto a rever suas verdades. Saber ouvir, compartilhar e trocar com o outro é essencial. Aprenda a lidar com opinões diferentes da sua.
Daniele Pires — UX & Service Designer

Aprenda a ouvir. Vc tem que ouvir não apenas o usuário, mas stakeholders, como produto e também dev. E tente ir além da UX. Saiba um pouco de tudo — de produto, de programação, de negócio.
Leticia Ciancone — User Experience Specialist

Acho muito importante que o candidato que está começando na área (e deixando de lado, um pouco, quem está começando sua jornada profissional) comece a se acostumar a pedir e receber bem feedbacks sobre seu trabalho (parecem a mesma coisa, mas são dois “processos” totalmente diferentes). Numa entrevista, qualquer indicação de que a pessoa começou a fazer isso no seu dia a dia já levanta meu interesse.
Diogo Cosentino — UX Lead

Quanto mais você tiver controle emocional e comprometimento com seus objetivos, mais tranquilo você ficará diante as oscilações do dia a dia. Afinal, dizem que mar tranquilo não faz bom marujo.
Responda positivamente aos feedbacks recebidos e na dúvida, pergunte sempre.
Nathalia Yamauti — Lead Designer

Mesmo assim ninguém quer errar né. Então minha sugestão é baby steps: comece com pequenas coisas. Quando a gente vê um processo inteiro de UX, pode ficar meio intimidado, parece tanta coisa! Mas escolha algumas atividades para começar. Por ex: você tem um novo projeto, em vez de pensar em fazer muitas atividades diferentes, que tal pensar em atividades mais pontuais como: fazer um benchmark da concorrência, entrevistar alguns usuários, prototipar, pedir a opinião de alguém em cima do seu protótipo. Pode não ser uma super pesquisa com usuários ou algo extenso, mas já vai te dar alguns insights.

Pequenas pesquisas sempre ajudam, é só lembrar que você não vai ter a verdade absoluta, mas sim boas hipóteses para trabalhar. Nesse ponto, vale lembrar que quanto mais ágil a atividade, mais você consegue corrigir a rota e mais aprende. Muitas das atividades, principalmente pesquisa e prototipação, há muita teoria disponível, mas o melhor mesmo é botar a mão na massa. Construa, teste, experimente. A experiência prática proporciona o aprendizado real.

Quando falamos em testar, temos que também ter a certeza se estamos fazendo isso empregando a melhor técnica para aquele público, a fim de não enviesar, ou pior, até mesmo constranger, aquele que deveria ser quem eu quero ajudar. Para isso, não existe muita receita, deve-se antecipadamente mapear cenário de teste e público-alvo, e aí partir para a técnica mais adequada, fazendo as perguntas certas dentro do contexto de uso mais adequado.

Aprender isso vai levar tempo, mas vale observar o trabalho de quem é referência e faz isso bem, buscar referências e literaturas e sobretudo, intimamente, como sugestão, o quanto antes adotar três preceitos que poderão ajudar em muito.

O primeiro é com humildade compreender que é o usuário que irá lhe ensinar — ele tem as respostas que você precisará. Em seguida é praticar a real empatia, indo a campo e reconhecendo o real contexto de uso e necessidades de quem você quer atender e ajudar. Por fim, empregar em todo este processo, princípios de ética e gentileza.
Adriano Vieland — Gerente de UX

Trabalhar com UX é um compromisso de aprendizado constante. Assim como as pessoas, as tecnologias que criamos e usamos mudam a todo momento, a todo instante. Somos sempre iniciantes :)

Empatia, com seu usuários, com seus colegas de trabalho, coração e mente aberta, muita vontade de procurar sempre evoluir, testar novos jeitos de fazer a mesma coisa! Não cultive hábitos, não se acomode e não se torne dono da razão sobre nada, humildade de sempre estar se auto avaliando para melhoria contínua! UX é termo guarda chuva de muita coisa e dificilmente você vai se tornar expert em tudo! E tá tudo bem, comodismo é horrível e aprender nos motiva, evita burn out, nos faz crescer! ♡
Além dos quesitos técnicos também se atente ao modo que você se comunica, com companheiros de trabalho, com usuários, etc! Evolua isso também!
Laina Fasoli — Product Designer

Pode parecer bullshit, mas eu diria para meu “eu do passado”: Acredite em você, essas loucuras na sua cabeça são possíveis. Vai firme, com vontade, estude tudo que puder, conheça pessoas interessantes e não de bola para os negativistas de plantão.
Felipe Melo Guimarães — Senior UX Designer

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